TENHO MEDO

Por: Pericles Gomes

Imagem: Internet

Tenho medo de trair meus ideais para ser feliz. Tenho medo de abandonar a minha fé em troca de alegrias e desejos momentâneos. Tenho medo de perder meus amigos e de ser perdido por eles. Tenho tantos medos que me considero amigo do medo.

Nessa busca lancinante pelo ter e pelo ser; tenho medo de não ser quem eu sou, com meus muitos defeitos e poucas qualidades. Tenho medo de não ter sonhos, pessoas a quem amar e tenho medo principalmente de não ter amores.

Tenho medo de não ser julgado, de não ser caluniado, de não ser criticado, de não ser injustiçado, perseguido e questionado. Pois só quem é amigo dos grandes e poderosos que normalmente não são nem julgados, caluniados, criticados, injustiçados e perseguidos. Tenho medo até de não ter inimigos. Tenho medo que não me odeiem e oxalá que estes jamais me amem. Tenho medo de não querer estar do lado dos pequenos, de gente simples e criativa, que chora mas é feliz por ser quem é.

Tenho medo que o meu discurso seja incoerente e não encontre guarida em alguns corações. Tenho medo de promessas incumpríveis, tenho medo de pódio, de holofote, de status, esses mentem, enganam, sufragam, destorcem e já recompensa para quem os possui. Sonho com a eternidade.

Tenho medo de ser convencido pelos falsos profetas. Tenho medo de não ser nem profeta nem louco. Os dois são por demais confundidos, na verdade ambos são o mesmo. O profeta é um "louco" e todo louco é "profeta".  Tenho medo de não ser nenhum dos dois.

Tenho medo de não ter uma boa companhia para tomar uma taça de vinho, um café quentinho nos fins de tarde, pessoas de papo agradável e que volta e meia descorde e pense diferente de mim. Pois tenho medo de enxergar o mundo somente com as minhas lentes ( ainda não sei se tenho miopia).

Tenho medo de não sofrer, de não perder e de não lutar pelos meus sonhos, e por tudo aquilo que acredito,  exaurindo-me até o fim por eles. Mesmo crendo que o fim não existe.

Decidi apesar dos meus medos, viver. Posso ser acusado de tudo. Exceto que fico com "a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar"; como cantou o poeta baiano Raúl Seixas. Confesso que não sei o que seria de mim sem os meus medos, por isso não esqueço de agradecer a Deus por tê-los.

Diretor-presidente: Pericles Kinho. Edição: Adenilson Kbça e Leandro Bahiah. Direção de Arte: Pedro Henrique. Produção/Departamento Comercial: Amauri Leão. Direção de Marketing: Abel Meira. Colaboração: Edilene Bahiah, Jamilson Campos, Matheus Lima, Thaylana Santos e Werônica Rios.