Emilson Alano de Carvalho: A
maçonaria não é seita ou religião. Embora, um dos princípios básicos para ser
maçom é que a pessoa acredite em um ser superior, Deus! Nas reuniões, não são
debatidas religião e política.
Zahyra Mattar
Tubarão
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Emilson Alano de Carvalho |
Notisul - De onde surgiu a maçonaria?
Emilson - Esta é a pergunta que todos fazem e também a mais
difícil de responder (risos). É que não há registros categóricos do início. A
maçonaria vem de outras ordens como os Templários, por exemplo, é uma espécie
de evolução. A Ordem Maçônica começa a contar a partir de 1717 quando, na
Inglaterra, juntaram-se pessoas para construir catedrais. Maçom significa
pedreiro.
Notisul - Como dividem-se as potências?
Emilson - No Brasil, existe a potência Grande Oriente Brasil, da qual nós
fazemos parte, assim como todos os outros irmãos do país. Depois, em Santa
Catarina, temos duas grandes potências: a Grande Loja de Santa Catarina e o
Grande Oriente de Santa Catarina. Potências nada mais são do que organizações
administrativas. Os princípios, os objetivos são os mesmos em todas as
potências.
Notisul - E quem administra esta estrutura toda?
Emilson - Dentro da ordem, existe uma hierarquia. Fica mais fácil de
entender se comparar com a política, ainda que a maçonaria não tenha
absolutamente nada a ver com política: tem um “presidente”, que seria o
soberano grão-mestre. Ele é o “chefe” da potência Grande Oriente do Brasil.
Depois, temos um “governador”, que é o eminente irmão grão-mestre. Ele
administra a Grande Loja de Santa Catarina. Então, tem um “gerente regional”, que
são os delegados de circunscrição, que é o meu caso.
Notisul - Por que a denominação lojas? Quantas lojas existem em Tubarão e na
região?
Emilson - É a denominação dada para agrupar um número de membros. Nos
reunimos em um templo e, dentro dele, podem existir várias lojas. Em Tubarão,
temos três templos que abrigam, juntos, 11 lojas maçônicas. Por exemplo,
naquele templo da Vila Moema, que é o mais conhecido, existem três lojas. Na
região, temos 19 lojas. Cada loja agrupa, aproximadamente, 40 membros.
Notisul - Quem vê fotos ou vai a um templo maçônico vê uma série de
símbolos: chão quadriculado, pedra, um olho em cima de um altar. O que
significam?
Emilson - O grande foco da loja maçônica é o aprimoramento, o
desenvolvimento cultural e espiritual. Para facilitar este aprendizado, ao
longo da história da ordem, utilizamos alguns símbolos. Por exemplo: utilizamos
um triângulo para remeter a três importantes linhas da vida: a liberdade do
homem, a igualdade e a fraternidade. Estes são três grandes princípios da
maçonaria e, nas reuniões, fica mais fácil transmitir a mensagem através destes
símbolos. O chão quadriculado, por exemplo, significa a diversidade do globo e
das raças e da oposição de diversos contrários (bem e mal, espírito e corpo). A
pedra simboliza as imperfeições do espírito e nos lembra aquilo que precisamos
corrigir. O olho significa o ser supremo que nos guia.
Notisul - Mesmo com uma maior abertura hoje em dia, a maçonaria ainda é
cercada de mitos para a maioria das pessoas. O que faz um maçom?
Emilson - O objetivo do maçom é buscar uma oportunidade, um momento, um
espaço, para se conhecer interiormente. Na realidade, o grande trabalho da
ordem é justamente este: o aperfeiçoamento do ser humano, de si mesmo.
Primeiro, temos que nos aperfeiçoar para depois doar algo, ensinar algo. A
grande dificuldade das pessoas é justamente se conhecer para depois conhecer os
outros: olhamos e logo traçamos um pré-conceito.
Notisul - É verdade que maçom só ajuda maçom?
Emilson - É verdade que maçom trabalha para si mesmo: preparando-se, vai
ajudar a sua família. Para nós, a nossa família, em um primeiro momento, são os
maçons. Como nossos princípios estão fundamentados na evolução do ser humano,
procuramos crescer espiritualmente para, primeiro, ajudar nossa família de
sangue, depois a nossa família da loja, a família do bairro, da cidade, do
estado, e assim por diante. Então, é um mito que maçom só ajuda maçom. Não!
Maçom de princípio mesmo ajuda a todos, mas cada qual dentro das possibilidades
e no tempo certo.
Notisul - De onde são tirados estes ensinamentos?
Emilson - Esta é a nossa constituição (o professor estava com um livrinho
azul). Mas aqui não tem nada de ensinamento. O que tem de ensinamento está no
livro sagrado, que pode ser a Bíblia ou outro conforme a crença. Acho que aqui
em Tubarão a maioria das lojas deve utilizar a Bíblia, mas não há relação
religiosa, então, cada um pode usar qualquer escritura sagrada que desejar.
Notisul - Então, não há preconceitos com religiões?
Emilson - Não! A ordem não exige que os membros tenham religião, exige
apenas que você acredite em um ser superior, que pode ser Deus, Jeová, Buda,
não importa o nome que se dê a Ele.
Notisul - Quais os critérios para ser maçom?
Emilson - Na realidade, não existem critérios para ser iniciado na ordem. O
que há é um perfil. Em primeiro lugar, a pessoa tem que ser livre, ter uma
trajetória de bons costumes, até mesmo para internalizar nossa linha
disciplinar, nossos marcos. A condição é basicamente esta. Também precisa ter
independência econômica para não pensar que vai até a loja e não vai trabalhar
porque será ajudado. A maçonaria não é estepe de ninguém. Nós ajudamos uns aos
outros, mas não é este o foco. Quem entra jovem na ordem é porque já tem certa
estabilidade. Todos são convidados. Não é necessário ter uma condição
financeira boa para entrar na ordem, mas tem que ter o perfil, ou seja, ser
livre, de bons costumes e capacidade para melhorar como ser humano.
Notisul - Há quanto tempo o senhor é maçom? O que o senhor mais aprendeu com
a maçonaria? O que mudou?
Emilson - Estou na ordem há 16 anos. Sob o ponto de vista social, entendo
que evoluí bastante. Ajudou-me, inclusive, nas atividades profissionais, porque
aprendi a me manifestar publicamente, aprendi a fazer leituras de cenários e
fatos do dia-a-dia que antes não tinha capacidade aguçada para tal. Neste
aspecto, é uma contribuição que a ordem me deu e que serei eternamente grato.
Notisul - Por que as mulheres não participam?
Emilson - Elas participam e de maneira bem ativa na ordem maçônica. A única
diferença é que não são iniciadas. O que não é reservada a elas são as reuniões
ditas ordinárias. Temos vários grupos de cunhadas que são formados por nossas
esposas, grupos de sobrinhas e sobrinhos, que são nossas filhas e filhos. A
questão da não participação da mulher também é algo histórico. No começo da
maçonaria, lá em 1717, eram os homens que construíam catedrais. Além disso, foi
feita uma espécie de legislação na qual estava prescrito que era apenas para
homens. Então, seguimos piamente estes preceitos, este costume. Não tem nada a
ver com machismo.
Notisul - E por que é tudo tão fechado?
Emilson - Entendemos que é um grupo reservado. Na verdade, não tem motivo
para ser assim, poderíamos ser mais abertos. Mas percebo que estamos evoluindo.
Antes de vir para cá (a entrevista foi no Notisul, quinta-feira à noite), minha
esposa perguntou se eu vinha, eu disse que sim. Aí ela me viu pegando as
insígnias: “Mas você vai com as insígnias? Eu pensei que não podia aparecer” (risos).
Esta reserva é algo que remete ao passado da maçonaria. Nossos irmãos eram
muito cobrados, especialmente pela igreja católica, que mandava politicamente
no mundo. Então, houve uma perseguição. Daí a reserva. Hoje, isso também
ocorre, mas não como antigamente, claro. A partir do momento que me identifico
como maçom, as pessoas começam a me vigiar. Se eu cometer um deslize, serei
cobrado e colocarei a ordem em xeque. As pessoas, nós, somos assim:
generalizamos.
Notisul - Por falar em insígnias, o que significam?
Emilson - Serve mais para definir posições dentro da ordem e também nos
disciplinar. O avental, por exemplo, é o elemento principal das insígnias
maçônicas. Simboliza o trabalho. O branco é para os aprendizes e companheiros,
branco orlado de vermelho ou azul celeste - varia conforme a potência da loja
ou com o rito praticado - para os mestres.
Notisul - Depois de tudo que o senhor explicou, acho que o mundo todo
deveria ser maçom.
Emilson - (Muitos risos) Não sei se todos precisariam ser maçons, mas
poderiam seguir os preceitos, os princípios que norteiam a maçonaria: a
igualdade, a liberdade, a fraternidade e a evolução humana.
Fonte: NotiSul.