Por: Teto Machado
"Muitos são os chamados, mas poucos são os escolhidos!" (Jesus)
A palavra vem do latim. Significa "chamamento" ou "chamado". No sentido Cristão do termo, corresponde ao momento em que é oferecida aos indivíduos, uma oportunidade, uma Graça. Junto à mesma, vem um dos dons concedidos pelo Espirito Santo, denominado "discernimento", que é certa capacidade ou habilidade de que a pessoa, despindo-se de si, de suas cegueiras e bloqueios, por um rápido momento, seus barulhos interiores, se abra para a escuta da voz do Senhor.
Corremos tanto, gritamos tanto, falamos tanto e fazemos tanto que não damos "um tempo" para que essa Graça, esse "chamamento" se esclareça. Parece para muitos de nós que, apesar de tão pouco tempo de existência na terra, que tudo é óbvio, tudo é o mesmo, nada é diferente e que, portanto, nem vale à pena escutar ou perceber o chamado.
Já paramos para pensar que nossas negativas imediatas são, talvez, uma recusa à vontade de Deus? Que rezamos e desmentimos o "seja feita a Vossa vontade", ao mesmo tempo, no Pai Nosso?
Ouvir ou não o "chamado" de Deus pode ser uma opção, na liberdade dos filhos dEle, que nos foi concedida, como diz São Paulo. A recusa da Graça, sendo livre, nos leva a refletir sobre o mistério do ser, do existir, do estar aqui, com uma pergunta: para quê?
Esse "chamado" nos pode chegar de inúmeras formas. Pode ser que Deus nos fale por um fato especial marcante, por uma leitura que impressiona, pela realidade gritante do sofrimento de tantos irmãos, pelo ardor provocado na vivência sacramental da Eucaristia, no convite de alguém para uma experiência ou Missão. Enfim, de alguma forma a voz de Deus pode nos chegar, como um trovão, um grito, uma ventania, uma tempestade ou como um raio, um sussurro, uma brisa, uma chuva fina. Ver e ouvir com o coração é uma questão de atitude, que implica disposição para a conversão.
Transformação do coração de pedra em coração de carne. Às vezes, muito difícil num mundo tão brutalizante e insensível como o nosso.
Diante do "chamado" estando em nossa liberdade para qualquer tipo de resposta, a única atitude que o Senhor espera de nós é a sensatez da espera, da busca, da claridade.
Quando Jesus chamou seus discípulos, aquele chamado implicou em três momentos distintos que demandou algum tempo de paciência. No meio, muitos desistiram, no final, um traiu, mas no início, todos o seguiram.
A Vocação Cristã apresenta-se no primeiro instante do "VINDE", no segundo momento de conhecimento, esclarecimento, preparação do "VEDE" e, finalmente, após e decisão consciente, no "IDE"!
Não é o fazer cego, o ativismo incansável, as obras de caridade apenas, o que nos torna Cristãos. Pelo contrário, o ser Cristãos é que nos move para o serviço, as obras. E ninguém se torna Cristão por si, sozinho, por se achar sendo, isolado. Ser Cristão é estar junto, é viver a experiência da Fraternidade, é arriscar encarar as "feiúras" do meu ser pela ótica dos outros, dos irmãos, para a minha conversão", para a minha santificação. Sozinho, diante de mim mesmo, acho que sou um "santo", mas em comunidade, os "demônios" escondidos se revelam e então, percebo que é chegado o momento de enfrentá-los e, com a ajuda dos irmãos, exorcizá-los.
Ser Cristão é aceitar o chamado para a mudança, viver a fraternidade, testemunhar o "amai-vos uns aos outros" e sair em missão de serviço, sempre no espírito de comunhão fraterna.
Nos primeiros séculos do Cristianismo, uma corrente de hereges cristãos Gnósticos, acreditava que para salvar-se bastava fazer o bem aos necessitados, dar esmolas, purificando assim o espírito que, iluminado, obteria acesso ao Logos e à compreensão da verdadeira mensagem de Deus, que seria para poucos.
No seculo XIII, São Francisco de Assis, diante do chamado, esperou até que o Senhor lhe revelou, aos poucos, que deveria fazer, não sem antes ele se colocar de joelhos, diante do crucifixo da Igrejinha de São Damião e perguntar: "Senhor, que queres que eu faça?"
A oração, a contemplação, a meditação constituem uma das etapas mais importantes vocação. É o momento da escuta, da atenção aos sinais, antes da resposta e da missão.
“E depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho.” (Testamento de São Francisco – 1226)
A intuição genial de Francisco foi, certamente a de que a caracteristica principal de seu chamado era a "Fraternitas", o espirito de irmandade, o "nós" no lugar do "eu". Daí a síntese do Carisma franciscano expressar-se pela tríade evangélica do FRATERNISMO, MINORISMO e INSERÇÃO NO MUNDO. As duas últimas condicionadas pela primeira proposição.
Lembre-se: VOCAÇÃO= VINDE+VEDE-IDE
Paz e Bem!
Diretor-presidente: Pericles Kinho. Edição: Adenilson Kbça. Direção de Arte: Pedro Henrique. Produção/Departamento: Leandro Bahiah. Direção de Marketing: Abel Meira. Colaboração: Jamilson Campos e Werônica Rios.