Por Leandro Bahiah | Foto: Arquivo Pessoal.
Não foi de repente, a impressão
que dar é que fora passageiro. Na verdade, foram quatro décadas vividas com
alegrias, tristezas, lutas, derrotas e vitórias. A vida é o que é — é esse mar
revolto, essa constante busca pela sobrevivência. Tinha razão Guimarães Rosa, quando disse que viver é perigoso, todavia, perigoso é não viver, pois, para
viver ou sobreviver como queira, requer coragem.
O bom de ter mais idade, é que a
gente se acha no direito de dar conselhos aos mais novos, porque já
experimentados coisas que eles ainda a de conhecer, de sentir e de decepcionar-se.
Quando nasci, o Brasil ainda era
governado por um ditador, a expectativa de vida no País era de 62 anos, a inflação
assolava a mãe pátria, pessoas pereciam de tuberculose. Das lutas pela Diretas Já, quando
vir ao mundo foi no mesmo ano do: Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Nasci propenso a lutar!
Muitas coisas mudaram, vivemos em uma democracia, apesar de ser ameaçada constantemente, hoje no Brasil, a expectativa de vida é de 75 anos, tuberculose tem cura. Mas as lutas sociais continuam, Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), MST, LGBTQIAPN+, Movimento Negro e tantos outros.
Nesses quarenta anos, ouvi o
Brasil ganhar a Copa do Mundo de 1994, sentir na pele os governos neoliberais
de Fernando Cardoso: parecia que o Brasil não tinha jeito, o complexo de
vira-latas imperava na mente de muitos jornalistas e intelectuais brasileiros.
Vi o Brasil ganhar a Copa do Mundo de 2002.
Me deparei por percas dolosas,
coisas que todo ser humano se deparará um dia e para tal dor ninguém está
preparado, por mais consciente, e espiritualmente evoluído ou religioso que
possa ser. A morte continua ser um mistério, não tenho medo da morte, pois, ela é inevitável!
Parafraseando Gilberto Gil, eu tenho medo é de morrer.
Aprendi que sempre há espaço
para fazer, para aprender, para escrever, reescrever. E nada é fácil,
sacrifícios a de fazer para conseguir o que almeja. Cabe refletir: vale a pena?
Esse esforço desmedido em buscas de coisas que não te enaltecerá. O bom da vida, é
ter opções, as escolhas. Aprendi que somos feitos de escolhas, porém, não se
engane — existe momentos que não temos escolhas — cabe ser resiliente.
Sou um animal político, gosto de
política, ela está no nosso dia a dia, e a solução fora dela não existe, por
isso, não fujo dela. Ela está atrelada a tudo!
E os sonhos? Uns continuam,
outros já ficaram pelo caminho, outros surgirão. No entanto, o desejo de
acertar é maior do que o medo de fracassar. Outros foram realizados, outros não
é para ser realizados, serve apenas como uma lufada de vento numa tarde de sol
quente, acalenta a alma e anestesia a mente em meio ao caos social e as guerras
pelo mundo afora.
Saber que estou no meio do
caminho, talvez no início, quiçá no fim, lembra a questão da finitude, e aí mesmo,
reside a minha humanidade. E isso não me assusta, está aí a beleza, viver é
perigoso dizia o literário. És alguém que acredita no destino? Ou é daqueles
que tem certeza que o destino é a gente que traça?
A beleza da vida não está no poder, está no servir, no aprender, no ensinar, na alegria de ensinar como salientou Rubem Alves. No jogar conversa fora, falar sozinho, ouvir os animais e a natureza e registrar no papel ou na mente, como fez o poeta, Manoel de Barros. No esclarecer, no rezar em comunhão ou no torcer pelo irmão e irmã, no ajudar uma pessoa na hora da precisão sem olhar a quem.
Sou um homem latino-americano sem dinheiro no banco, como diria Belchior, brasileiro nato sonhando numa América do Sul cortada pela linha do Equador — onde não existe pecado. Onde o maior crime é a omissão dos esclarecidos frente as armadilhas daqueles que ver nos oprimidos apenas massa de manobra, objetos, algo descartável e que serve de força braçal. Inimigos!
Esforços, empreendi. Ajuda? Tive. Amigos, amigas, parentes, colegas tenho sempre comigo. Pessoas que fizeram minha vida ter sentido, e mais quer isso, ter significados e que faz-me sentir vontade de viver: seja numa conversa trivial, tomando um vinho, confabulando coisas boas.
Gratidão tenho, eu sei para quem rezar, e sei a quem pedir — isso é crucial na vida. Acredite!
Ingratidão — é uma criatura feia
e saciada — espero que ela nunca me seduza.
Enquanto a inteligência
artificial impera, a tecnologia avança, e a liquidez do mundo moderno nos
assombra, pois, o mediatismo é concreto, onde tudo se torna descartável e a imbecilidade nos provoca a cada instante. Aqui estou, acreditando nas virtudes,
jogando xadrez, lendo bula de remédio (normal para idade), rezando e observando o caos, contudo, pronto para
ação!
Alegre por vencer mais um dia,
por ri, livre de enfermidades — e que por alguns instantes me faz sentir
imortal e independente. Só por alguns instantes.
Não reclame da vida! E quem
disse que não posso reclamar? Quando apago uma vela, é mais um ano de vida que
se foi. Se foi com aprendizado, com irmãos ajudados, com afetividade criada entre pessoas que direta e indiretamente afetei — espero que positivamente.
Aos feridos, perdão!
O que você deixará? Herança: risos, personagens, a lutar por um lugar melhor, onde os diretos não sejam usurpados e que a dignidade seja primordial. E que a fome seja saciada em cada lugar do mundo. Amém!
Venha o que tem por vir — sem ansiedade — seja como as águas inquietas
do rio Novo que pede socorro, todavia, passam não tomando conhecimento dos
obstáculos. O tempo passa depressa!
Desejo que todos tenha vontade de estudar, de aprender, de amar, independente desse sentimento de escassez, dessa volatilidade que hoje é desejada e essencial, amanhã, é ultrapassado e inútil.
Será que estes estudantes inconscientemente têm razão?, pensei, talvez estejamos
preparando-os para empregos que futuramente nem existirá. Bem, esse é um papo
para outra ocasião.
As palavras de carinho, as felicitações sinceras e as homenagens.
Grato!