Por: Pericles Gomes
Imagem: internet
O título deste texto a priori seria "porquê renunciei". Aliás ele está escrito à um pouco mais de dois anos, mas como não o fiz, não o publiquei e provavelmente não o publicarei.
Explico: a um pouco mais de dois anos me elegeram conselheiro tutelar do município de Ibicuí. Com a ajuda de muitos amigos e colaboradores conseguimos fazer com quê um menino de 21 anos, lá de Ibitupã conseguisse ser eleito com mais de 700 votos. Me candidatei porque de fato acreditei que como conselheiro, iria poder ajudar as crianças e adolescentes de minha amada Ibitupã tão carentes de assistência e cuidados.
Quando tomei posse percebi que era praticamente impossível fazer aquilo que pretendia. Encontrei o conselho com uma estrutura carcomida, estragada, ruído, velho, antigo, ralado e principalmente desassistido pelo poder público municipal.
O conselho tinha uma sede com as paredes cheias de infiltração, o mato no quintal dava pra criar animais, tinha um computador mas não tinha internet e nem impressora. Quando era necessário imprimir um documento recorríamos as lan house's, não tinha um transporte para nos deslocarmos aos distritos, zona rural e dentro da própria cidade. Não tínhamos um telefone para recebermos as denúncias (os conselheiros usam para isso o telefone próprio). E etc...
Portanto, passados três meses não tinha outra alternativa: decidi renunciar. Conversei com alguns amigos (que faço questão) que exerçam influência sobre mim, conversei com o meu diretor espiritual e nenhum deles me permitiram me tornar um resignatário. As justificativas deles eram unanimes: não foi você quem entrou lá, foi o povo quem te pôs, em respeito a eles acho que você não deveria renunciar. E completavam: não foi você quem montou essa estrutura, você já a encontrou assim. Faça sua parte pra tentar pelo menos, melhorá-la.
Então depois de muito refletir decidi adiar a renúncia.
Mas quanto mais me esforçava... tanto mais percebia o quanto difícil seria. As críticas injustificadas aumentavam...
Mas foi então que decidi que não mais renunciaria. Pois tinha certeza de quê aquilo que era minha atribuição eu estava fazendo. Nunca me negligenciei. Sempre me esforcei e tenho dado a minha contribuição.
De lá pra cá pouca coisa mudou. E é notório que quase nada mudará. Mas as lutas que temos travado hoje, influenciará amanhã e os novos conselheiros que virão depois de nós, com certeza encontraram as coisas mais ajeitadas. É nisso que tenho acreditado.
Quando tomarmos consciência de quê somos todos (pais, professores, conselheiros, juiz, promotor, polícia, enfim todos) os responsáveis em assegurar os direitos das nossas crianças e adolescentes, então construiremos um mundo mais justo, igualitário e fraterno.
Me aventurei em tentar fazer isso, agora não dá mais pra voltar.
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