Por: Prof° Teto Machado
Um cristão não pode ser marxista, no sentido estrito do termo. Poderia ser uma exclusão, em absoluto, caso o Cristianismo o Marxismo fossem duas Religiões opostas, mas entre os dois termos, o único que se enquadra como sistema religioso, é o primeiro.
Os limites que impedem um cristão de ser marxista encontram-se, ao contrário do que muitos acreditam, não na finalidade quanto ao igualitarismo social, mas na práxis para o alcance dessa finalidade.
Não que o cristão deva assumir uma postura alienada e negar a historicidade e a realidade da luta de classes, mas, por princípios, opção e fé, se indispõe a abraçar-lhe de forma radical, pois sua adesão ao seguimento de Jesus, sendo igualmente radical, orienta-o a amar seus inimigos, orar por eles, não destruí-los, exterminá-los.
Mas reflitamos mais um pouco.
Não podendo um cristão, sob o risco de perder sua autenticidade e trair o Evangelho, ser marxista militante num sentido estrito, pode então, algum marxista querer ser cristão? O que o impediria? As portas fechadas? As caras fechadas dos "cristãos" de carteirinha? A hostilidade dos "veritatis catholicus"? (Meu Deus! Existe isso?).
Não há resposta correta para essas questões. Sabemos que, para um movimento de chegada, no âmbito eclesial, há que considerar-se, sempre, a possibilidade da atração provocada pelo Espírito Santo, que é livre e não é propriedade da Igreja. Quem pode colocar-se no remoto risco de opor-se à ação da Graça?
Quem encarregou alguém como guardião da Igreja e vigia de suas portas e átrios?
"Quem te constituiu juiz de teu irmão"? (S. PAULO).
O Concilio Vaticano II não foi abolido, nem reformado. Suas Constituições, Decretos e Declarações continuam válidos e obrigatórios de observância e prática, sem glosas e inoportunas interpretações restauracionistas.
Nele, antes de que se emitam opiniões sobre vários aspectos da vida e missão da Igreja, é preciso buscar os fundamentos.
Do Concílio emanou-se o princípio de diálogo com o mundo moderno e suas realidades. Esse diálogo funda-se no desarmar os espíritos e se evitar toda linguagem medieval de condenação ao que vem de fora e gera estranhamento. A proposta de conversão é externa e parte dos que se dispuseram ao seguimento de Jesus Cristo na perspectiva do abraço e da misericórdia. O que distoa disso é estranho ao Cristianismo.
A Igreja abriu-se ao diálogo com os ateus e orienta seus fiéis nessa tarefa (Gaudium et Spes 252-263).
Ensina o Respeito e Amor para com os Adversários: "O respeito e caridade devem se estender também àqueles que em assuntos sociais, políticos e mesmo religiosos pensam e agem de maneira diferente da nossa. (...) Essa caridade e benevolência não nos deve tornar de modo algum indiferentes perante a verdade o bem. Mais ainda. A própria caridade impele os discípulos de Cristo a anunciar a verdade salvadora a todos os homens. Mas é preciso distinguir entre o erro, que deve ser sempre rejeitado, o errante, que conserva todavia a dignidade de pessoa, mesmo quando inquinado por noções religiosas falsas ou menos cuidadas. Só Deus é juiz e escrutador dos corações. POR ISSO ELE NOS PROÍBE DE JULGAR SOBRE A CULPA INTERIOR DE QUEM QUER QUE SEJA". (GAUDIUM ET SPES, 286).
É necessário pois, superar uma certa obsessão compulsiva para com os marxistas, que na realidade, acaba por gerar um comportamento esquizofrênico de muitos "veritatis catholicus".
Que interesse teriam os "monstruosos" marxistas para "infiltrarem-se" na Igreja? O que os atrairia para queimar suas existências ouvindo o que não acreditam, praticando o que não gostam? Filiar pessoas em seus partidos? Onde isso ficou evidente?
Quem afirma essa infiltração necessita tratamento urgente.
Os marxistas possuem seus partidos, acham a Igreja incapaz de servir a seus propósitos, tem nos sindicatos, bairros e locais de estudos suas bases e fazem sua panfletagem, ação e meios muito mais atrativos ao seu discurso.
Possuem jornais, revistas, editoras, partidos legais, entidades étnicas e movimentos sociais ativos.
Sua fundamentação teórica baseia-se no estudo da Economia Politica, da Filosofia Materialista e numa linguagem intelectual de difícil acesso para a maioria dos simples leigos da Igreja. Afinal, o que defendem, constitui-se ciência social de crítica e ruptura politica.
Muita pseudo crítica ao marxismo, não resiste a cinco minutos de análise, pelo desconhecimento total do conjunto de sua estrutura e pela argumentação superficial forjada no manancial ultrapassado e suspeito da superada Guerra Fria.
Concluindo. Não há como conciliar ser Cristão, na radicalidade do que esse seguimento representa e, ao mesmo tempo, ser marxista, pelas insuficiências de seu humanismo, assentado no ódio ao inimigo.
O resto, baixar a guarda, praticar a humildade e a caridade cristãs para com os adversários e resgatar o mérito, não de ser "veritatis catholicus" (Jesus!!), mas de ser, de fato, simples servidor de todos, um Cristão.
Diretor-presidente: Pericles Kinho. Edição: Adenilson Kbça. Direção de Arte: Pedro Henrique. Produção/Departamento: Leandro Bahiah. Direção de Marketing: Abel Meira. Colaboração: Jamilson Campos e Werônica Rios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário