sexta-feira, 4 de abril de 2014

"MEMÓRIAS DE UM QUASE TRINTA", UM CONTO DE LEANDRO BAHIAH.

PAU D`ARCO - OLHARES UOL.
Conto: Memórias de Um Quase Trinta. 
Autor: Leandro Bahiah.
Imagem: Internet.

Revirando minhas memórias lembrei-me de um episódio marcante da minha vida. O ano era 1996, tinha doze anos de idade, pela primeira vez entrava numa sala de aula e naquele cenário uma pessoa em especial chamou-me atenção, Luma! Este era o nome dela. Luma era esposa do gerente da fazenda Infância Feliz, tinha três filhos por nomes de Mary, Marli e Gilvan. Luma tinha um encanto todo dela, o seu sorriso iluminava as mais negras das noites da Infância Feliz, uma mulher mulata, estatura meão, de aparência delicada, gestos rápidos e conservava naturalmente os seus cabelos nigérrimos e curto. Não usava maquiagem, contudo, mesmo assim, continuava linda. Seus olhos amendoados tornavam-se protegidos por suas pálpebras, e estas, piscavam rapidamente como um voar de um beijar-flor. Luma usava um par de brincos de micheline  pequenos que ornava suas belas orelhas ao mesmo tempo que estes brincos combinavam perfeitamente com a harmonia de seu pequeno e comprido rosto.
Eu e minha irmã Cidinha depois das aulas passávamos na casa de Luma, uma vez que sua casa ficava a caminho da escola. Ali, brincávamos com os seus três filhos, mas, era pretexto meu, só para ver a mulher amada. Tinha ainda mais três quilômetros a serem percorridos da Escola Boa Vista para a nossa casa:

- Meninos vão logo, é longe daqui pra lá. - dizia Luma com o sorriso nos lábios. - Seus pais vão ficar preocupados.

- É perto. - respondi de mediato.

Qualquer sacrifício valia a pena para estar perto dela. Sua voz soava como um arpejo, seus carinhos inocentes e puros me alimentava, me renovava. A pródiga Luma nos davam deliciosos pedaços de bolo regado com um aromoso café. Percebi de repente, estava apaixonado por aquela mulher! São inesquecíveis as pândegas que Luma habilmente organizava em sua residência, geralmente eram festas de São João em junho ou de Santa Luzia que realizava-se no dia 13 de dezembro, dia da Santa da qual era devota. Ali, naquela espaçosa sala, Luma dançava com o marido Pietro, filhos, meninos e meninas, mulheres e homens. Luma dançava até mesmo com os vaqueiros, os seus subordinados. E nestas festas jamais teve brigas! Todos que moravam naquelas adjacências eram convidados, era só alacridade na difícil realidade do campo.
Tempos depois os meus pais saíram da fazenda Belém e fomos morar na cidade. Um dos piores dias da minha vida, chorei. Deixava para traz o amor da minha vida. Lembro-me que as vezes ficava sem jeito quando o seu marido Pietro chegava em sua casa e deparava-se com a gente. Na minha cabeça estava fazendo algo de errado, quando na verdade o que existia era uma fantasia pueril. Como tudo é possível no mundo fantástico das crianças.
Anos depois... Recebi uma triste notícia e pela segunda vez, chorei. Luma falecera aos 22 anos de idade numa feliz tarde de domingo. Era primavera e no campo as flores exibiam sua beleza, um contraste horrendo fora denotado. Luma fora vítima de uma cachaça contaminada com etanol. Foi uma comoção geral na região!
Araponga, dono do alambique que fabricava a cachaça, fugiu. E até hoje goza em impune, e em liberdade em qualquer lugar deste Brasil. Confesso que tive esperanças quando o crime ficou nacionalmente conhecido através do programa Linha Direta da tevê Globo, porém nada aconteceu. As vítimas daquela maldita cachaça os que não morreram estão até hoje com sequelas como a cegueira.
Jamais tive notícias da família de Luma. Onde estão hoje Mary, Marli e Gilvan? Será que seu Pietro morreu? Sinto saudades daquele tempo que não volta mais... Como  paixões é coisa que dá e passa, contudo, as lembranças da minha amiga querida Luma não passará. Ficará para sempre na minha lembrança. Rezo por Luma e peço a Deus que tenha misericórdia de sua alma, embora quando estava aqui na terra só fez coisas boas. Saudades eternas Lú.

Fim.

Diretor-presidente: Pericles Kinho. Edição: Adenilson Kbça e Leandro Bahiah. Direção de Arte: Pedro Henrique. Produção/Departamento Comercial: Amauri Leão. Direção de Marketing: Abel Meira. Colaboração: Edilene Bahiah, Jamilson Campos, Matheus Lima, Thaylana Santos e Werônica Rios.

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