sexta-feira, 18 de maio de 2018

AH SE OS NOSSOS PROFESSORES LESSEM PAULO FREIRE...

Por: Pericles Gomes

Eu estava terminando a leitura de uma obra magnífica de Paulo Freire, o patrono da educação brasileira e durante muito tempo o maior ganhador de títulos honoris causa do nosso país, superado a pouco tempo pelo ex-presidente Lula. A propósito a obra em questão era a "Pedagogia da indignação", fui levado a ler este livro depois de ter lido aquela que considero ser a maior obra literário do nosso grande educador, a “Pedagogia do oprimido”.

É nesta obra – Pedagogia do oprimido - que Paulo Freire defende a tese de que “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”, quem há de se opor a isso? Nesse capítulo ele ainda diz: “Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “conivência” com o regime opressor.” Para que haja um opressor é necessário vários sub-opresores.
Ainda continua: “O diálogo critico e libertador, tem de ser feito com os oprimidos, qualquer que seja o grau em que esteja a luta por sua libertação. Não um diálogo às escâncaras, que provoca a fúria e a repressão maior do opressor. Os oprimidos, nos vários momentos de sua libertação, precisam reconhecer-se como homens, na sua vocação ontológica e histórica de Ser Mais.”

Quase no final da “Pedagogia da indignação”, no insight “Denúncia, anúncio, profecia, utopia e sonho” Freire nos ensina: “Pensar o amanhã é assim fazer profecia, mas o profeta não é um velho de barbas longas e brancas, de olhos abertos e vivos, de cajado na mão, pouco preocupado com suas vestes, discursando palavras alucinadas. Pelo contrário, o profeta é o que, fundado no que vive, no que vê, no que escuta, no que percebe, no que intelige, a raiz do exercício de sua curiosidade epistemológica, atento aos sinais que procura compreender, apoiado na leitura do mundo e das palavras, antigas e novas, à base de quanto e de como se expõe, tornando-se assim cada vez mais uma presença no mundo à altura de seu tempo, fala, quase adivinhando, na verdade, intuindo, do que pode ocorrer nesta ou naquela dimensão da experiência histórico-social.”

De vez em quando é bom ler Paulo Freire. A gente fica mais sabido, tudo muito bem explicadinho. No final das contas, tudo se deve a esse grotesco infinitamente pequeno desvio da ação dos oprimidos. Pois a nossa educação não ajuda os indivíduos a se libertarem, na verdade a nossa educação ensina os oprimidos a se tornarem opressores. Colocando em suas cabeças a falsa sensação de que o mundo sempre foi assim e de que o máximo que podemos é um dia estar no lugar daqueles que nos oprimem, não para acabar com a opressão, mas para oprimi-los. O que a nossa educação põe, não há homem que disponha.

Coisa mais complicada que ler Paulo freire não existe. Pois tudo tem acontecido tão direitinho, na ordem certa, que não faz sentido alguém vir dizer que estamos errados. E quase sempre estamos errados. Quase sempre… Vez por outra uma coisinha não acontece segundo o programado. E o resultado é uma coisa diferente. 

Steven Pressfield, escritor norte americano escreveu um livrinho saboroso e amargo ao mesmo tempo, pois nos cura das nossas feridas, só que o remédio é amargo. Na “Guerra da arte” ele disse que existe um acordo tácito em prol da mediocridade, quem se levanta contra esse acordo é taxado de traidor pelo seu povo. Ou seja, se você quiser ser elogiado, bem visto e quisto é melhor não se opor a nada, melhor que fique tudo na mediocridade que aí está, pelo menos você não se indisporá com ninguém e continuará como queridinho por todos. Quem quiser aprofundar neste tema, leia “o mito da caverna” de Platão. Garanto que entenderão!

De todos os profissionais, os que mais eu admiro são os professores. Imagine aí alguém que dá aula em salas precárias, recebem mal para isso, não são respeitados por pais e alunos, mas ainda assim, todos os dias lá estão nos ensinando. Este é o seu sacerdócio, a isso eles dedicam tempo e tempo é vida. Foi dom Pedro II quem disse: “Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.”
Mas preocupa-me em demasia os dias atuais. Como futuro professor de filosofia afirmo com toda a certeza do mundo, os nossos professores não lêem Paulo Freire, alguns na verdade nem lêem. Dia desses perguntei a um professor qual foi o último livro que ele leu e corei ao ouvir dele, que nem se lembrava mais quando tinha lido um livro. Pedi a outro que me indicasse um bom livro e ouvi dele que a última vez que leu um livro tinha sido na faculdade. Estão aí os motivos do meu desalento. Como alguém pode oferecer aquilo que não tem?

Perdoe-me pelo desabafo, mas basta de mediocridade na educação, além de alunos analfabetos funcionais, estamos com uma porção de professores com o mesmo problema. Um curso de 20 horas/aula de hermenêutica resolveria issso. Professores leiam Paulo Freire! Vão descobrir que o caminho não é estar ao lado dos opressores, mas se colocar a caminho juntos com os oprimidos construindo uma educação mais inclusiva e libertadora. Menos apegada ao poder, pois o poder transforma anjos em demônios e homens e mulheres em diabos. Leiam Freire e libertem seus alunos e se libertem das amarras da engrenagem constituída, que foi construída com mãos humanas. Em fim, leiam, apenas leiam! 

Você professor que por ventura estiver lendo esse texto se pergunte: eu leio alguma coisas? Qual livro estou lendo? Qual foi o último livro que li? Sou um professor que ajuda os alunos a se libertarem ou fico do lado de quem manda, ao lado dos opressores?

Diretor-presidente: Pericles Gomes. Edição e Revisão: Adenilson de Oliveira. Produção Executiva: Jailton Silva Gomes. Direção de Pauta: Leandro Bahiah. Direção de Arte: Pedro Henrique. Marketing e Propaganda: Abel Meira Gomes. Colunistas: Pericles Gomes/Leandro Bahiah/Pedro Henrique/Kallil Diaz. Colaboradores: Jamilson Campos/Henrique Alexandria e Josenaldo Jr.

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